quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Campeonato Mundial de Ciclismo Paraolímpico 2009 - Itália


O atleta João Schwindt da equipe Brasplásticos/Unieuro participou do campeonato mundial de ciclismo paraolímpico disputado em Bogogno na Itália entre os dias 8 e 13 de Setembro de 2009. Veja fotos do evento abaixo e relato de João a respeito da competição.

Cerimônia de abertura

Cerimônia de abertura


Cerimônia de abertura


Percurso

João aquecendo antes da prova

João e o inglês Russell While na fuga

Cumprimentos após a prova.


Soelito e João após a prova de estrada


Celebração após a vitória


João com Soelito no dia do contra-relógio. Soelito foi o 3º, João infelizmente não pôde participar do crono.


Soelito no Pódio.


Resultado final (clique na imagem para ampliar)


Relato de João Schwindt sobre sua participação no mundial:

O mundial paraolímpico 2009 de estrada e contra-relógio foi disputado na cidade de Bogogno na Itália entre os dias 8 e 13 de Setembro. Existem diversas categorias na modalidade paraolímpica que varia de acordo com o grau de lesão que o atleta possui. No meu caso, fui classificado pela junta médica da UCI na categoria LC1, a mesma de Soelito Gohr, atleta renomado que corre atualmente pela equipe Scott de São José dos Campos, São Paulo, e também outros dois brasileiros, Lauro Chaman e Rafael Silman, ambos também correm por equipes do interior de São Paulo.

Inicialmente eu e os demais disputaríamos duas provas, o contra-relógio de 19 km, e a prova de estrada de 78 km. No entanto não foi isso que ocorreu, como somente três atletas de cada nação podem disputar o contra-relógio, eu fiquei de fora, disputaria apenas a prova de estrada.

Na prova de contra-relógio, Soelito foi o 3º colocado, Rafael o 16º e Lauro o 20º.

Minha participação no mundial se resumiria então somente na prova de estrada que consistia de 8 voltas em um circuito de 9,75 km que passava por 3 cidadezinhas, totalizando 78km. Havia apenas uma subida a menos de 2 km da chegada, uma subida parecida com a da matinha aqui em Brasília, porém um pouco mais curta. Após essa subida vinha uma descida bastante íngreme, com uma curva perigosa a direita ao fim e em seguida vinha a chegada.

Largaram 34 atletas, três brasileiros; eu, Soelito e Rafael, a tática definida por Soelito era simples, andarmos na frente do pelotão, e termos sempre um atleta em cada tentativa de fuga. Dada a largada e após alguns ataques, um francês se destacou do pelotão e foi embora. Porém quando o francês colocou mais de um minuto no pelotão logo se via os italianos e espanhóis trabalharem para buscar, o que ocorreu na terceira volta, estava muito cedo para tentar bater o pelotão. Logo em seguida alguns ataques dos fortes atletas da Áustria e Austrália, respectivamente primeiro e segundo colocados na prova de contra-relógio dois dias antes, no entanto, como ambos corriam sozinhos, tava complicado pra eles, eram muito marcados. Os italianos também lançavam alguns ataques na subida, parecia que estavam testando quem estava com pernas para subir forte o ponto que parecia ser decisivo da prova. Eu logo percebi que os fortes ali eram os italianos, espanhóis, ambos países com três atletas, os franceses com quatro e os solitários atletas da Áustria e Austrália. Eu e Rafael obedecíamos aos comandos de Soelito e ninguém escapava sem um brasileiro na roda. Era a primeira vez que corríamos juntos, mas tudo parecia funcionar bem pra nós, estávamos controlando a corrida como uma equipe experiente.

Então na quinta volta quando chegamos no pé da subida o Soelito estava a frente do pelotão só controlando o ritmo, nessa hora eu sentia as pernas bem e pensei: “é minha vez de dar uma pancada aqui e ver quem vem”, e foi o que fiz, só dei uma olhadinha pra trás pra ver quem vinha e para a minha surpresa não veio ninguém. Só vi o Soelito fazer sinal como quem diz: “Vai nessa!!” e fui.. Acho que os demais pensaram: “ ah deixa esse brasileiro ai queimar as pernas sozinho”. Mas mesmo sozinho eu tava disposto a fazer uma força pra ver até onde ia minha iniciativa, mantive o ritmo forte pra ver no que dava, abri a 6º volta escapado em primeiro, após alguns quilômetros a moto da organização veio e informou a distância, 30 segundos era a diferença. Pensei, ta bom, vou apertar um pouco mais. Tinha uma parte do percurso que passava por uma plantação num descampado que ventava muito, nesse trecho era mais difícil andar sozinho, mas não desisti. Durante a volta tinha muita gente assistindo ao longo do percurso, muita gente aplaudindo, outros dava pra perceber a insatisfação em não verem um italiano na liderança, enfim, abri a 7º volta ainda em primeiro. Toda vez que passava pela linha de chegada escapado era uma doideira, um monte de gente, o locutor falando um monte de coisa, eu só entendia meu nome e ‘de brasile’, uns 4 km após, um inglês chegou em mim e fez sinal para rodarmos, falei: ‘all right LET´S GO MAN!!’. A moto encostou e mostrou a diferença para o pelot: 1min e 15 segundos, ai que eu me empolguei de vez, comecei a acreditar de verdade que a fuga poderia vingar, botei uma força monstra, porém do nada o inglês parou, fez sinal de que não dava mais pra ele e deu a entender que era para desistirmos da fuga. Eu não queria desistir, só que eu precisava do cara para me ajudar, era o momento mais crítico da prova, após perdermos algum tempo nesse desentendimento eu falei pra ele que eu não ia desistir, só se o pelotão chegasse, e ele veio de roda. Seguimos e abrimos a última volta escapados ainda, só que nesse momento a distância era de apenas 20 segundos para o pelotão e eu sabia que o pelot vinha com tudo, até daria para sustentar a fuga se o inglês ainda tivesse perna pra ajudar, mas como não foi o caso, só consegui segurar a fuga até faltarem cerca de 6 km para o fim. Nessa hora vi o Australiano chegar junto com os demais, porém o Soelito vinha na roda deles, e eu percebi que ele estava inteiro e que ia pra chegada. Então quando chegou na subida em que todos sabiam que poderia decidir a corrida, realmente decidiu. O Austríaco atacou, Soelito foi na roda dele, quando o cara cansou Soelito deu o tiro de misericórdia, atacou forte, só deu pra ver os italianos irem a caça dele, porém ali já era tarde.. eu subi com os franceses, cruzei a linha em 8º , 2 segundos atrás dos 3 lideres e vi o Soelito vencer a corrida. Fiquei muito feliz por ele, pois ele fez meu esforço valer à pena, tive direta participação no resultado final. No final só alegria, ele me agradeceu dizendo que fiz uma bela corrida e que minha fuga facilitou muito para ele poder vencer pois os demais tiveram que se desgastar pra buscar e ele pôde se poupar.

Eu fiquei satisfeito com minha participação e acredito que o Romolo Lazzaretti e demais integrantes da delegação brasileira também. Acho que fiz um bom trabalho na primeira vez em que representei o Brasil, recebi cumprimentos de outros atletas inclusive do técnico da equipe italiana. Apesar de eu ter terminado a corrida com a sensação de que poderia ter feito mais. Terminei a prova com gás pra dar ainda, e é ruim quando isso acontece, quem corre sabe o que é isso. Diferentemente do brasileiro master em Macapá ocorrido dias antes onde terminei exausto com a certeza que fiz o máximo que pude, no mundial senti que poderia ter feito ainda um pouco mais. Porém para a primeira participação em uma prova internacional, sem conhecer o nível dos adversários, o resultado foi bom, mas espero ir melhor na próxima.

No geral foi ótima a oportunidade que tive de disputar esse mundial.

Agradeço ao comitê paraolímpico, principalmente ao Romolo, que me apoiou como pôde, agradeço o pessoal da minha equipe Brasplásticos que estão sempre me dando força, mas deixo minha grande crítica e registro minha insatisfação com o GDF, que criou o projeto “Compete Brasília” com o objetivo incentivar os atletas e para-atletas de alto rendimento da cidade a participar de competições nacionais e internacionais por meio da concessão de passagens aéreas, mas que através do senhor Marco Aurélio Soares Salgado me negou a concessão das passagens e tive que pagar do próprio bolso.

Ass: João Schwindt

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