O programa “Bolsa-Atleta” foi uma iniciativa do governo para incentivar os que vivem do esporte, fornecendo assim uma renda para os atletas se dedicarem aos treinos. A bolsa é concedida somente à esportistas sem patrocínio e o valor fica entre R$ 300 e R$ 2.500.
A intenção é nobre e louvável, mas na prática, como quase tudo por aqui, é bem polêmica.
Por exemplo, você considera a pesca, jogo de damas e aeromodelismo como esportes? E bolão, já ouviu falar?
Pois é... Muito do dinheiro investido no esporte vai para essas "modalidades". É bom lembrar que a Lei 10.891, de 2004, que instituiu o Bolsa-Atleta, aponta claramente que o benefício deve ser dado aos "praticantes do desporto de rendimento em modalidades olímpicas e paraolímpicas, bem como naquelas modalidades vinculadas ao Comitê Olímpico Internacional (COI)".
Desculpe se estiver enganado, mas não me lembro de ver ninguém praticando Pesca ou jogando Damas na olimpíada. Alguém viu? Tudo bem que “oficialmente”, xadrez, bolão, pesca e aeromodelismo são reconhecidos pelo COI, mas é justo esse investimento?
Veja declarações de alguns contemplados feitas ao jornal Folha de São Paulo:
Vicente Pfau, campeão brasileiro de aeromodelismo de escala e um dos três contemplados na modalidade com a bolsa-atleta nacional: “para falar a verdade, quando comecei a praticar, achava que era um hobby", “não sei bem o conceito de esporte, mas aeromodelismo desenvolve o modo de pensar."
Ana Paula Araújo Brito, bicampeã brasileira de dama de 64 casas: "o povo fala que (damas) não é (esporte), mas acho que é. É um esporte igual aos outros. É um lazer, um divertimento".
Luiza Shiyoko Shinohara Sano, diz que a pesca, não é tão monótona a ponto de ser desqualificada: "Assim como todo esporte, ela exige dedicação", diz a dentista, que todos os finais de semana vai ao litoral para treinar. Nunca tantos pescadores foram contemplados com bolsas. Além de Luiza, outros 11 praticantes receberão bolsa-atleta.
Mais beneficiados ainda serão os atletas de bolão. O esporte, ancestral do boliche, teve mais contemplados pelo programa do governo (47 pessoas), do que esportes olímpicos como ginástica artística (27) e remo (36).
"Quando soube que ia receber a bolsa, fiquei mais espantado do que feliz. Achei que não teria chances porque o bolão é pouco conhecido", conta Rogério Arkie, 36, campeão brasileiro individual do esporte e quarto no Mundial da Alemanha.
Esses dados contrariam um dos objetivos do Bolsa-Atleta que é o de "investir prioritariamente nos esportes olímpicos e paraolímpicos".
Agora sei para onde vão alguns dos milhares de reais que o governo destina e sei também porque é que as medalhas brasileiras são tão raras nas olimpíadas.
Diego Hypólito, Daniele Hypólito e Jade Barbosa estão sem receber salários e foram oficialmente dispensados do Flamengo, clube onde treinavam. É isso mesmo. Segundo dirigentes do Flamengo, isso é culpa do COB que não investe em clubes formadores de atletas e também da crise mundial. Bela desculpa.
Diego está sem patrocínio. O maior ginasta brasileiro atualmente está sem patrocínio, não é uma beleza? Enquanto isso, Itaú e CBF fecham longo contrato que envolve mais de 200 milhões de reais.
Enquanto muitos ótimos atletas ficam sem dinheiro, muitas promessas são mortas antes mesmo de se tornarem promessas. E dinheiro não falta.
Esta é a face real do nosso esporte.
Rodrigo Piva
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