segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Matéria Marcelo Rocha

E agora?! Mais uma “gafe”…… - Geometria de quadros, características principais etc – Polêmica à vista!
Por Marcelo Rocha


Há um bom tempo eu vinha querendo fechar talvez o melhor e mais explicativo artigo já publicado em meu site e nos sites parceiros. Com a gafe da revista VO2 na matéria da última edição que “tenta” diferenciar tipos de quadro, eu tive que adiantar a publicação do artigo. Pois bem, na tentativa de explicar a diferença entre os quadros de contra-relógio, ciclismo e triatlo o artigo da revista foi ficando controverso e inacreditavelmente equivocado. Vejam, eu sou leitor assíduo da revista e já tive uma grande matéria feita em meu Estúdio pela revista; porém, por vezes tentei me comunicar com os editores quando foram cometidos erros nas matérias a respeito das bicicletas e nunca fui ao menos respondido e dessa vez vou utilizar o meu espaço para humildemente desfazer o equívoco da matéria.

Para entendermos o que é geometria de quadros de bicicleta, alguns conceitos devem ser pré-estabelecidos; os quadros de ciclismo e mountain bike do mercado atual têm em média 73.5 graus de ângulo no tubo de selim. Os de triatlo hoje em dia estão em 98% dos casos acima dos 78 graus. Os de contra-relógio por uma regra imposta pela UCI que faz com que os ciclistas ajustem o selim de maneira que ele (o selim) fique cinco centímetros atrás do eixo do movimento central da bicicleta, têm em média 74.5 graus. Então, quadros de triatlo e contra-relógio são os mesmos, mas o ângulo de tubo de selim que o ciclista utiliza efetivamente é diferente entre eles. E o que significa ângulo “efetivo” no tubo de selim? Para que um ciclista utilize o ângulo de tubo de selim que o fabricante fornece em seu quadro, por exemplo: um PINARELLO FP3 tamanho 54 cm que tem 73.5 graus no tubo de selim (sonho de muitos de nós ciclistas); o ciclista deve ajustar o selim com o centro anatômico do selim no centro do rail (peça que prende o selim) do canote. Se esse for o ajuste correto para esse ciclista, ele pode dizer que anda em 73.5 graus. Supondo que o ciclista através de um bike fit bem feito avance seu selim em um centímetro do que seria ele centralizado no rail e encontre o ajuste perfeito. Caros leitores, esse ciclista apesar de possuir talvez a mais tradicional das bikes italianas, não estará andando em 73.5 graus, simples assim. Como? Quando falamos em customizar bicicletas, o primeiro item customizado é o ângulo do tubo de selim; em um simulador específico achamos onde o ciclista se senta e precisa se sentar (vertical e horizontalmente) em relação ao movimento central, e depois veremos que ângulo de tubo de selim é aquele. Pois bem, quando a bicicleta dele estiver pronta, ele andará com o selim centralizado em relação ao rail e terá a sua pedalada perfeita com o selim no centro. Resumindo, se você tem uma bicicleta com 74.5 graus no tubo de selim e outra com 73.2 cm, e coloca nas duas vamos supor 72 cm de altura de selim e o selim 6 cm atrás do movimento central, você está efetivamente andando no mesmo ângulo de tubo de selim nos dois quadros! Simples (ou complicado) assim!

Se você for à Itália ou à Holanda, ou aonde quer que seja e fizer um quadro customizado e depois chegar aqui e seu selim tiver que ser avançado ou atrasado em relação ao rail para encontrar a posição de pedaladas perfeita, temos um problema. Ou você foi enganado e não fizeram o quadro sob medida, ou simplesmente erraram no cálculo do tubo de selim. Pois bem, essa é a primeira etapa para que entendamos que não adianta falarmos que temos um quadro tradicional com 73.5 graus e isso e aquilo, ou mesmo um quadro de triatlo com 78 graus, e em nenhum dos casos utilizamos o selim está centralizado ao ângulo do quadro; talvez fosse melhor ter comprado outro quadro ou mesmo não tentar colocar isso como vantagem.




A - comprimento horizontal B - Altura do tubo de selim C - ângulo do tubo de selim D - ângulo do tubo da direção E - tamanho do stay traseiro F - Rake G - distância de caída da caixa de centro dos eixos H – entre - eixos I - trail J - standover L - distância caixa de centro - eixo da frente M - tubo da direção N e O veja na outra figura.

Passada essa etapa vamos à outra. Imaginem dois quadros de ciclismo tamanho 54 cm com 54.5 centímetros de comprimento e com 14 centímetros no tubo da direção. Um tem 73.5 graus e no tubo do selim e o outro 73.9. Você leva essas bikes para sua sessão de bike fit e pede ao profissional que você fique exatamente igual nas duas bicicletas, e ao final da sessão temos 75 cm de altura de selim nos dois quadros, o selim 5.7 cm atrás do movimento central (os dois quadros estão no mesmo ângulo efetivo), 52.5 cm de distância do bico do selim até o guidão, e um desnível de 8.5 cm do selim para o guidão nas duas. O selim delas é o mesmo, grupo de peças e guidão também. Tudo leva a crer que você estará exatamente igual nas duas, e efetivamente está. Só que em uma delas você precisou colocar 20 mm de espaçadores embaixo da mesa e uma mesa de 115 mm e na outra apenas 5 mm e uma mesa de 125mm ?!!!! Ora, o tubo da direção não tem o mesmo tamanho e o selim não está na mesma altura? Como esses componentes ficaram diferentes? Existe uma característica por trás da “geometria” que todos olham nos quadros e que cada vez mais os grandes fabricantes divulgam em seus sites (ainda bem) que se chama stack e reach. O primeiro é a altura que o fabricante no momento da construção de seu quadro coloca o tubo da direção em relação à caixa de centro. Um dos quadros citados acima tem o stack de 56 cm e outro 57.5, por isso um tem 20 mm (ou 2 cm) de espaçadores e outro apenas 5 mm. Ou seja, não vamos falar que dois quadros com mesmo tamanho no tubo da direção (e que tem o mesmo comprimento) são iguais, porque eles podem ser (e quase sempre são) diferentes. O segundo (reach) é a distância (horizontal) que o tubo da direção tem da caixa de centro. Um dos quadros acima tem 38.5 cm de reach e o outro 39.5 cm. Por isso um tem mesa de 125 mm (ou 12,5 cm) e o outro apenas 115 mm. Lembre que o ciclista está à mesma distância e à mesma altura em relação à caixa de centro nas duas bikes, ou seja, qualquer diferença da caixa de centro para frente de verá ser compensada como aconteceu acima, e como sempre acontece. Mas e o que aconteceu na matéria da VO2?





O primeiro equívoco foi falar que quadros de contra-relógio ou triatlo têm sempre o tubo da direção menor do que a de ciclismo; pode ser que sim, mas não é isso que diferencia os quadros, e sim o stack. Não importa que tamanho tenha o tubo da direção, importa que altura ele seja montando em relação à caixa de centro. E nos quadros de triatlo e contra-relógio o stack é sempre (100% dos casos) menor do que nas de ciclismo. Assim como nas mountain bikes o stack é maior do que nas de ciclismo e triatlo com muita folga em 100% dos casos. Se você tem uma mountain bike aí na sua frente, faça a medida do tubo da direção e compare com a sua de ciclismo, e aí tente entender porque você pode ter achado um tubo menor na mountain bike e com menos espaçadores embaixo da mesa, mas quando vc olha o guidão dela tem desnível de apenas 2 cm em relação ao selim e a na de ciclismo você tem 7 cm de diferença com um tubo de direção maior e com mais espaçadores embaixo da mesa, vamos supor. Pode quebrar a cabeça aí. O segundo equívoco foi falar que bicicletas de triatlo e contra-relógio são menos “reativas” do que as de ciclismo, porque as de ciclismo tem o tubo da direção maior. Existe outra característica nas bicicletas chamada de trail, quanto maior o trail mais estáveis serão as bikes, e quanto menor mais rápidas e ariscas. Pois bem, bikes de triatlo têm sempre o trail maior (e precisam ter) porque o ciclista tem muito peso concentrado na roda da frente da bike ao contrário da de ciclismo; e por isso (pelo trail) elas são menos ariscas. Então, quando você ouvir aquele especialista falando em triângulo traseiro, ou menor triângulo do quadro, seno e co-seno, resultantes de força e blá, blá ...... Balela, a diferença é sempre o trail. Ah, e as mountain bikes também têm diferença no trail entre os modelos. Por exemplo: uma all mountain tem mais trail do que uma cross country XC, e também por isso são mais confortáveis (as all mountain). E outro detalhe, apesar de uma bike de triatlo (quando falo incluo a de contra-relógio sempre) ter a distância entre - eixos menor do que a de a de ciclismo; se você medir do movimento central até o eixo da frente a de triatlo é maior do que a de ciclismo, aumentando a base também e tornando por isso também essa bike mais estável para andarmos no clip.

Em breve escreverei a parte II desse artigo. Dessa vez, não consegui e nem poderia ser sucinto em um assunto tão complexo, mas acredito que já ajudei um pouco no entendimento de geometria e outras características de quadros de bicicletas, e desfiz em parte o equívoco de uma revista tão respeitada, mas que nem sempre tem boas edições em suas matérias. Até breve

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